Capítulo 2


                                        Os dois subiram e a mulher o levou até a porta do apartamento, o lugar que ela mais queria evitar naquela noite era justamente onde se encontrava, o mais estranho é que ela ainda tinha a chave do apartamento em seu chaveiro mesmo depois de quase sete anos. Abriu a porta e levou o vampiro até o sofá, deitando-o. Emilly olhou o apartamento onde tudo começou, estava sujo e bagunçado, não se parecia em nada com o local que Murray cuidava com o maior zelo do mundo, a garou bem que tentou dar uma arrumada, mas não estava com cabeça para aquilo. Ela precisava beber, beber algo forte que a ajudasse pensar, precisava urgentemente de um café.
                                  Foi até a cozinha e lá não havia nada além de cerveja, o pó de café estava vencido a mais de quatro anos e a garrafa térmica que ela mesma comprou, era um depósito de poeira. A mulher não se sentia muito bem, as lembranças eram muitas e tudo que Emilly pensava era em sair dali o mais rápido possível. Passou-se horas sem que Murray acordasse e só foi fazê-lo quando já era dia. Sua maldição estava se esvaindo aos poucos e nem mesmo ele entendia isso, seus supostos "poderes" não estavam fortes e marcantes como antes. Acordou com uma dor de cabeça imensa, percebendo que seu apartamento precisava de uma faxina, estava tão despreocupado que deixou de lado aquilo que mais amava. Só que logo se mudaria, já tinha até encontrado a casa e a maioria das coisas estavam empacotadas.
                          -Emi? - Procurou com os olhos e não tinha sinal da loira. -Emi? - Arriscou novamente, porem continuou sem resposta.
                              Levantou meio cambaleante e olhou pela janela, os raios do sol penetravam o lugar e tocaram sua pele, a mesma começou a queimar, ele não portava o anel que o protegia, por isso queimava. Era uma dor boa mas não queria virar torrada, saiu dali e foi até a cozinha onde encontrou a mulher deitada no chão, dormindo abraçada a garrafa de café.
                               -Tinha que ser... sorriu e pegando-a levou até seu quarto onde a deitou sobre o lençol amassado. -Dorme princesa! - Ela precisava descansar enquanto ele precisava de um banho.



                              O sol invadia o quarto quando Emilly despertou, um tanto confusa perguntava a si mesma como foi parar naquela cama. Era como voltar ao passado e isso a assustava. Sentou-se na cama olhando o quarto que guardava segredos da época mais feliz de sua vida. Se lembrou do vampiro apagado no sofá e sorrateiramente caminhou até a porta a abrindo devagar.
                         -Cany? Chamou por ele vacilante, temendo que como resposta tivesse uma faca atirada contra sua cabeça. Deu mais alguns passos no corredor em busca do vampiro sem obter sucesso. 


                         Murray saiu do banho e colocou a toalha na cintura, sem ao menos secar a parte que agora não estava coberta pela toalha, escutou a voz feminina chamar por seu apelido de antigamente, era a primeira vez depois de muito tempo que alguém o chamava desse jeito, sorriu ainda abobado, era uma voz tão bela e tão graciosa que dava vontade de escutar várias e várias vezes. Foi ao encontro dela e lá estava a pimpolha, toda medrosa, pensando que ele pudesse fazer mal a ela. Se tinha algo que Murray não sentia por Emilly era raiva, ele ainda não entendia como tudo acontecera e como ela conseguiu esquecer tão rapidamente dele, mas ele não achava errado ou coisa do tipo, só não entendia.





                                - Me procurando? -Ficou de frente para ela, quase de corpos colados, no meio do corredor. -Está com medo de mim Emilly? - riu desviando o olhar dela para uma estante que tinha ao lado com um porta retrato em cima, pegou e mostrou para ela. -Como pode temer quem ainda tem isso? - O sorriso sumiu de sua face, ele tremia por dentro. Era uma foto dos dois, de quando ainda estavam apaixonados, de quando ainda fazia sentido. 
                            A garou ficou paralisada, Murray estava praticamente nu e tão próximo que ela quase sentia a umidade de seu corpo, mas estava assustada, o vampiro tinha motivos de sobra para acabar com ela e Emilly bem sabia que se ele tentasse não conseguiria se defender, não conseguiria feri-lo. Mas ele fez pior, ele mostrou a foto para ela, sentia falta dela mesma naquela foto, da pessoa que foi um dia.




                                   Deu um passo para trás e desviando de Murray seguiu para sala, respirou fundo, buscando forças e então devagar começou a falar:
                                -Você parece bem, então eu posso ir embora...alguém me espera e deve estar preocupado comigo. Eu conheci uma pessoa e me apaixonei, hoje eu não posso mais viver sem essa pessoa, eu lamento te dizer isso, mas não há mais chances para nós, eu estou bem, estou feliz, refiz minha vida ao lado dessa pessoa....você está aí se matando, se torturando e ...eu sei que a culpa é minha!!! - Só então ela olha para ele, chegando mais perto. -...está na hora dessa foto sair da estante e ir pra uma gaveta, você precisa me esquecer, tem coisas boas esperando por você lá fora, você precisa voltar a ser aquele Murray de antes, você precisa olhar para frente.- respirou-  Eu lamento tanto tudo isso, lamento que nada tenha sido como planejamos.....eu não posso pedir sua amizade, isso seria demais. Mas eu preciso do seu perdão, eu te amei tanto e....me perdoa por ter mudado o rumo da história e jogado nossos sonhos no lixo sem ao menos dizer adeus!- ela permaneceu olhando-o  com o coração apertado e olhos aflitos. Não era nada fácil dizer aquelas coisas para ele, mas era necessário. Ele escutava tudo o que a boca dela pronunciava, em certos momentos seus
olhos fixavam-se nos lábios dela que se mexiam rapidamente tentando explanar á ele sobre seus sentimentos equivocados e não mais recíprocos aos dele. A vontade que ele tinha de derramar seu pranto era grande, mas segurou-se, não poderia demonstrar fraqueza, mas como não? Se tudo que um dia o tornou mais humano ele devia a ela? Tudo que ele conhecia de bom foi ao lado dela?Ele nunca arrependeu-se de tê-la salvado naquele beco, não era de seu caráter arrepender-se, desistiu de seu casamento que até então estava feito para ficar ao lado dela, mas de nada importava, fatos passados não modificariam o futuro que os aguardava, nada entregaria ela á ele.
                            - Tá... – olhou para baixo, seus próprios pés não mostravam a segurança que ele queria  exercer, olhava-os com desdém, era incrível que não poderia confiar nem mesmo em seus próprios pés perto dela. Não sorriu, não conseguia mais, olhava-a de relance as vezes e estava envergonhado, ela tinha feito uma nova vida agora, uma que não o envolvia, não havia mais espaço para ele ali, muito menos no coração dela, não havia nenhuma vaga. Porém, antes que desse a ultima palavra que os separaria para sempre ele tinha que senti-la pela ultima vez. Aproximou-se mais da mulher se é que era possível, passou a mão por entre as mechas de seu cabelo loiro e rebelde. Umedeceu os lábios e inclinou-se para deixar os rostos cada vez mais próximos um do outro. Ele não podia evitar, era mais forte que qualquer instinto dele....



                    Seus lábios encostaram um no outro e ele adentrou a boca dela tão suavemente que arrepiou todo seu braço, havia ele esquecido o doce da boca quente da garou, explorava sua boca com uma intensidade cada vez maior. Parou depois de um curto tempo, olhou para
os belos olhos dela.
                       - Te perdoo!

                   Emilly sem perceber correspondeu ao beijo e ao tocar os lábios frios de Murray um filme passou em sua cabeça com a velocidade de um raio, reviveu em sua mente tudo, desde o momento em que o viu pela primeira vez caída naquele beco muito machucada. Pronto, a pose de durona se desfez e seu coração bateu mais rápido que o de um bebê. Os olhos da loira não se abriram e uma lágrima silenciosa rolou em sua face. 
                 - E....eu....me...ah...me perdoa...meu deus eu te amo....DROGA! - Olhou para ele então um tanto confusa passando as mãos no rosto repetidas vezes com força enxugando as lágrimas que teimavam em descer, ela já ficava com raiva daquilo, Murray havia a desarmado. - Droga! Porque você me beijou? Porque me lembrou de como é? Eu....eu...eu tenho que ir embora....Tchau Murray.
                     Pegou a bolça sobre o sofá e correu para a porta, saiu por ela e a bateu como
se quisesse trancar tudo ali dentro, sete anos e nada mudou, ele ainda a dominava e aquilo era horrível. Foi aí que enquanto caminhava apressada para as escadas se lembrou de algo, se lembrou de alguém e parou, ela não queria voltar, não queria ver Murray e muito menos
constatar o quanto era fraca diante dele, mesmo assim abriu a bolsa e pegou a carteira, nela havia uma foto com um lindo sorriso, ao olhar aquela foto Emilly sorriu, respirou fundo e se acalmou, ela não era importante mas a menina da foto era, então fez o caminho inverso e
abriu a porta do apartamento de Murray com mais força do que havia fechado, o olhou séria, com o rosto vermelho, mas não mais chorando e estendeu a carteira para ele mostrando a foto. 
                   -Não pude fazer nada, perdemos o Victor, mas essa é a Olivia, e a razão que me trouxe para Londres novamente é ela. Nossa filha, ela quer te conhecer.....



  

                                 Uma foto tão bela, os delicados lábios da criança esticados em um lindo sorriso, os olhos que mostravam a alma resplandecente e tão boa que a menina teria, pés e mãos tão pequeninos e ao mesmo tempo tão meigos em cor de neve. Murray paralisou, pensou que a garota estava morta, que apenas Victor estaria vivo, era completamente diferente, saber que seu filho estava morto o cortou ao meio, mas o alivio logo em seguida cicatrizou a ferida por saber que um anjinho havia sobrevivido, que Olivia estava saudável e tão bela.
                                   - É um ótimo motivo para voltar Emilly - disse ele, olhava-a sério, como se a mulher nada o falasse ainda ha pouco, como se não tivesse acabado com todas a esperanças que ele ainda tinha, ele já estava conformado até ela dizer que o amava, agora, mais confuso ele não poderia estar. Deu as costas para mulher indo em direção ao seu quarto e fechando a porta, bateu a cabeça na parede, nada fazia sentido, porquê ela teria dito apenas agora? Não poderia ter dito antes, se ele não a tivesse beijado estaria assim sem saber da existência da criança? Ele estava bravo, feliz, porém bravo, era tudo muito angustiante. Emi nada disse, se sentou no sofá esperando alguma reação do vampiro, haviam muitas coisas que ele desconhecia, como o motivo da morte de Vitor e a razão que mantivera Olivia viva, mas não contaria naquele instante nada a ele, o homem piraria se tivesse todas as informações de uma única vez. O homem tirou a toalha de seu corpo ficando nu, foi até o guarda roupa e vestiu a primeira vestimenta que encontrou, calçou os sapatos e voltou a sala passando pela pequena cozinha de seu apartamento, voltou os olhos para os de Emilly ainda sério e de certa forma decepcionado.
                                  - Me leve até ela Emilly, me leve até a minha filha, quero vê-la, quero tocá-la... - Sorriu finalmente como se nada mais importava, como se de repente todo o rancor que em minutos adquiriu em segundos se apagasse. - Ou melhor, a nossa...



                            Emilly sentia as pernas bambearem, aquela era sem duvida a conversa mais difícil que já tivera na vida, a reação de Murray era esperada, embora a tenha deixado sem saber o que fazer quando se retirou da sala. Ela se perguntava se havia tomado a melhor decisão quando cedeu aos pedidos da filha para conhecer o pai, não se tratava de uma criança comum, era uma hibrida, se a nação de lobisomens desprezava crianças impuras, as hibridas eram vistas como seres demoníacos que precisavam ser exterminados o mais rápido possível. 

                           Emilly abriu mão de tudo e renegou a própria espécie para tentar proteger os filhos, o que não evitou a morte do menino.
Alguns minutos depois o vampiro adentra mais uma vez a sala e ela rapidamente se levanta o olhando aflita, as palavras dele eram secas, Murray deveria estar odiando a loira e com toda razão. Emilly consentiu com a cabeça e pegou sua bolsa colocando-a no ombro esquerdo, respirou fundo e séria respondeu ao vampiro.
                             -Vamos então...
                               Se virou saindo pela porta vestindo a jaqueta ele a seguiu, os dois desceram pelo elevador e passaram pela portaria sem que a loira pronunciasse uma única palavra, Murray possuía um carro, mas ela bem sabia que o vampiro cultivava inimigos e a última coisa que queria era que um desses descobrissem a menina. O porteiro olhou-os assustado com tamanha pressa, tinham trocado e aquela era a primeira semana de Fred.
                        - Está tudo bem Frederic, ela só quer comprar alguns sapatos e não vê a hora! - disse ao porteiro sorrindo disfarçadamente .
Emilly adentrou um táxi parado próximo ao prédio e entregou ao motorista um papel com um endereço.


                               

                      -Nos leve para este local, por favor.
                   A viagem toda não trocaram uma palavra se quer ,Emilly sentia as mãos frias e tremulas, nem ao menos conseguia olhar para Murray ao seu lado. Este que olhava a janela com uma confusão na mente, os prédios e casas passavam rápido demais para que ele conseguisse perceber algum detalhe.Quinze minutos se passaram e o silêncio do carro foi quebrado pela voz do motorista dizendo:
               -Moça, aqui não há nada! Tem certeza que o endereço está certo? - Emilly confirmou com a cabeça e retirou da bolsa o dinheiro para pagar a corrida.
                   -Obrigada!
               Desceu do carro sem mais delongas e enquanto esperava que Murray fizesse o mesmo observou cuidadosamente o local, em busca de algum suposto inimigo. Estavam na beira de uma estrada cercada por uma mata fechada, difícil de penetrar, não havia sinal de residências por ali. Os olhos azuis da loira fitaram os de Murray.
               - Tem certeza? - indagou o vampiro, como se não acreditasse nos passos da loba
              -Falta pouco....desculpe o lugar mas não podia ser de outro modo. Não posso bobear com a segurança de...nossa filha Cany....me segue!
                      Os dois adentraram na mata, era um local difícil de caminhar, o mato alto que cercava as arvores batiam na altura no peito de Emilly, a loira parecia andar em ziguezague, dez minutos depois era possível ver uma casa de madeira com um pequeno lago ao lado.
                          -Chegamos...


                    A mulher sem notar segura a mão de Murray e o arrasta apressadamente para o interior da casa, havia uma senhora muito velha cochilando numa cadeira de balanço no que seria a sala da cabana, Emilly passou direto por ela sem soltar a mão de Murray e então parou diante de uma porta, respirou fundo e soltou a mão do vampiro, o olhou mais uma vez sem dizer nada e então abriu a porta devagar. Era um quarto muito simples com uma cama no centro dele, nesta cama a menina de cabelos dourados e bochechas rosadas dormia tranquila  sem notar a presença dos pais. Emilly entrou em passos silenciosos, se aproximou da cama e beijou suavemente a testa da menina, um sorriso brotou em seus rosto, a expressão séria e preocupada se desfez como mágica.
                     -Ela não é linda?- sussurrou e se levantou parando ao lado da cama olhando para o pai de sua filha.
                   Murray Aproximou-se da criança e sua identidade materna, sentando-se na cama . Admirava abobado tamanha formosura, acariciou seus cabelos dourados e não pode deixar de sorrir.



                            -Sim, ela é. Eu não acredito Emilly! Por quê? Sabe que eu desistiria de tudo pra ficar com ela, para criar ela, o que te deu na cabeça? O Victor.. Olivia... Eu.. - virou-se levando as mãos á cabeça e pousando os cotovelos sobre os joelhos, ele não entendia nada.
                         Emilly mantinha um sorriso sereno nos lábios enquanto olhava a pequena Olivia dormindo, foi quando a indagação de Murray a deixou séria, voltou os olhos para o vampiro notando a confusão mental em que ele estava. Emi se aproximou mais de Murray e tocou seu ombro, respirou fundo e retirou a mão, começando a falar com a voz baixa e pausada.
                       -Quando eu estava grávida e você precisou se ausentar eu comecei a sentir algo muito estranho, como se uma força negativa me vigiasse de perto, senti medo, eu sabia que nossos filhos não seriam aceitos pela minha gente e provavelmente por ninguém, temi pela vida deles...as primeiras dores me fizeram sair de casa sem rumo, nem me lembro como cheguei até essa mata, onde uma velha Uktena me achou e trouxe-me para cá, foi aqui que as crianças nasceram....Olivia era um bebê forte mas Victor nasceu muito fraco, os meus genes e os seus brigavam dentro dele e Olivia meio que sugou a força do irmão em minha barriga....eu resolvi voltar para casa dias depois, mas fomos atacados por dois lobisomens, consegui escapar com as crianças pela umbra e voltei para Romênia, precisava esconde-los, eu estava fraca e eles eram só bebês... - Emilly se levanta e vai até a janela do quarto, olhando as folhas das árvores balançando, silenciou-se por alguns segundos. Murray escutava tudo atentamente, cada palavra, cada sussurro. Levantou a cabeça observando os movimentos da mulher, seu olhar longe acompanhado de sua mente, ele queria entender tamanha loucura em que ele tinha metido a garota. Nunca passara pela cabeça do homem que se apaixonar por ela traria tamanho transtorno para a mente já atormentada de Emilly esta que retornou à sua narrativa.


                  - Victor nasceu com um defeito de lobisomem, idade de lobo, ele se desenvolvia muito mais rápido que Olivia, eu sabia que garous assim morriam muito cedo e ele ainda estava muito doente, resolvi deixar Olivia com uma amiga de minha confiança, em segurança... e parti com o menino para casa de meu pai em Nova Iorque, precisava achar um modo de retardar o desenvolvimento dele, foi quando você nos achou e a primeira coisa que você disse era que havia sumido porque estava sendo caçado por vampiros e pensou que ficando longe me manteria em segurança....eu já estava fugindo de garous querendo matar as crianças, me calei por medo de ter vampiros atrás deles também, por isso sumi mais uma vez. Eu achava que assim você estaria mais seguro e as crianças também....Quando Victor fez dois anos ele aparentava ter quatorze anos, era um menino muito fraco que vivia doente e quase não aguentava andar, fomos atacados por garous e ele se feriu, conseguimos escapar mas o corte na barriga não cicatrizava e ele piorava rapidamente, não houve o que eu pudesse fazer, não podia levá-lo até um theurge para curá-lo, qualquer ser da minha espécie  que colocasse os olhos nele o mataria,...duas semanas depois ele morreu e eu voltei pra junto de Olivia. - Emilly começou a chorar, eram lágrimas de profunda dor, mas tentando se controlar prosseguiu. - Eu vi, eu vivi o quanto a minha própria espécie pode ser cruel, era só um menino mas para eles era o próprio demônio, senti muito medo pela nossa menina, desde então eu vivi escondida com ela, sem permanecer muito tempo em lugar algum. Senti tanto sua falta mas eu sabia que procurá-lo seria colocá-lo em risco, eu não queria isso Cany, também não queria que seus inimigos tomassem conhecimento da existência de nossa filha. Olivia não existe, ninguém sabe que ela nasceu, eu tenho me esforçado muito para mantê-la oculta. - a garou abre um leve sorriso olhando para Murray  - Olivia é mais forte do que qualquer garou ou vampiro que existe no mundo, ela possui dons que eu nem sabia que existiam, mas é apenas uma criança, uma criança muito especial que qualquer criatura sobrenatural veria nela, ou um grande perigo, ou uma grande arma.....dois meses atrás estávamos brincando de esconde- esconde, ela odiava brincar disso porque eu sempre a achava fácil, sentia o cheiro dela, mesmo assim ela insistia pra brincar assim, eu não entendia o por quê mas aceitava, neste dia eu não conseguia achá-la, já estava ficando desesperada quando ela pulou de uma moita ao meu lado morrendo de rir, eu fiquei pasma com aquilo, Olivia aprendeu a ocultar o próprio cheiro sem que ninguém a ensinasse....ela me pedia sempre para conhecer a cidade mas eu dizia que era arriscado porque pessoas ruins a reconheceriam pelo cheiro e tentariam fazer mal a ela....por isso ela se empenhou tanto em aprender se camuflar, então me pediu para vir até você, eu relutei muito mas por fim concordei ...e aqui estamos... - suspirou - ...Cany eu sei que o que fiz não foi certo, eu não tinha o direito de esconder tudo isso de você por tanto tempo, mas eu estava apavorada, não se vê híbridos por aí, é muito difícil sobreviverem à briga de genes e quando sobrevivem são exterminados!!! Nossa filha é uma raridade, eu precisava protegê-la e também te proteger....nenhum garou te pouparia, nenhum. E eu vi o nosso menino começar a morrer no momento que nasceu, eu não poderia colocar você e a Olivia em perigo também, sabia que você não ficaria longe dela...então me calei e fugi. - Emilly se cala fitando o chão, não era fácil falar sobre tudo aquilo, era como reviver o pesadelo, mas Murray precisava de respostas e ela não negaria isso a ele, já havia negado muita coisa.
                               Mesmo não querendo demonstrar ele percebeu que ela chorava, o pranto rolava por pele tão fina e quente, assim que ela terminou de falar ele levantou, seguindo até onde a mesma pousava seus pés.
                                  -Eu não fazia ideia...Pensei que tudo o que queria fosse apenas ficar bem longe de mim, pensei que não me amasse mais e tinha decidido ficar com outro, e foi exatamente o que eu pensei, mas por bobeira minha.  Tenho que te agradecer do fundo da minha alma Emi, só me promete uma coisa! - ele sorriu dando-lhe um beijo na testa - Nunca mais tente me proteger está bem?-  riu e abraçou a mulher, tão forte, tão intenso que não queria mais soltá-la, a história toda estava esclarecida e nada mais poderia afastar os dois, não se eles não quisessem.






                                  A garotinha ainda dormia na cama, de um jeito angelical e totalmente tranquilo. Murray soltou Emilly e limpou o pranto de seus olhos, virou para a menina e ficou admirando-a dali, longe dos cachos louros e brilhantes.

                                     - Ela é tão esperta,eu diria mais esperta que eu e você juntos Emi, tão madura e com apenas sete anos? Tem seus cabelos minha querida, tão sedoso e macio, mas minha pele confesso... Branca, alva e gélida como a morte. - o vampiro encostou a mão no rosto da pequena, estava mais frio que do que deveria. - Será que ela gostará de mim? - falou alto, era mais uma pergunta para si mesmo, ele estava encantado, ainda que fortemente abalado.
                                        Enquanto os dois ali se encantavam com a beleza da criança, ela não estava nem mesmo naquela dimensão, sonhava em um mundo não tão distante daquele. Lá  estava, caminhando com o gatinho Flick pela floresta mágica a caminho do reino dos Cogumelos, Flick balançava os bigodes desconfiado e de supetão puxou-a para trás de uma moita de algodão doce.
                                       -Ouço vozes estranhas Olivia. - disse ele.
                                       -Eu também estou ouvindo. Serão os gigantes? - indagou a criança.
                                        -Vamos sair daqui! Me siga em silêncio.
                                       Rasteijaram ambos por detrás das moitas de algodão doce, mas
a garota logo reconheceu a voz da mãe . Flick tentou  impedir que ela fosse atrás, porém ela foi mais rápida que ele e correu na direção da voz que ficava cada vez mais alta.
                                      -Mãeeeeeee. -apertou os olhos com força e quando os abriu estava em casa, na cama com o pai olhando para ela, sentou-se esfregando os olhos com as costas das mãos, voltou a olhá-lo e com a voz sonolenta brigou com ele pensando que ele estivesse no seu sonho .
                                      -Majestade o que faz aqui? Todos no reino atrás do senhor e o senhor
de férias no mundo real? - ficou olhando para ele, ambos pais sem entender se aquilo era mais um sonho ou ela estava delirando. A mulher não se conteve e caiu na risada, contagiando Murray que também começou a rir com a maluquice breve da filha. Porém, Emilly foi logo acabando com a fantasia da menina.




                                     - Meu amor, este não é o príncipe de quem fala....este é...o seu pai! - Emilly se sentou na cama olhando para a menina, aquele era o momento pelo qual eles tanto esperavam, finalmente, pai e filha juntos. Olivia ficou o encarando e esperando uma boa explicação da mamãe, arregalou os olhos quando se deu conta do que realmente estava acontecendo e se afastou um pouco na cama.
                                           - M...meu...pa....pai??- a garotinha sentiu sua respiração ficar mais forte e ajoelhando na cama aproximou-se  devagar tocando o rosto dele com a ponta de seus dedinhos trêmulos - Você é o meu pai? - abriu um largo sorriso e saltou para os braços dele, abraçando-o tão forte que começou a chorar ao mesmo tempo que ria e gritava para a mãe - 
Mãe você trouxe o meu pai. Meu pai. Meu pai!!!!!!!!!!!!!!!!!! - soltou o homem e ficou admirando ele com os olhos brilhantes Jura que você é o meu pai mesmo?
                                           Murray não parava de sorrir, ele não fazia isso há um bom tempo, antes não existiam motivos para tal ato, porém aquela criança tornou a face toda humanidade que ele havia guardado em um baú, os olhos verdes iguais aos dele eram tão profundos que jamais esconderiam nada, ele não sabia o que os aguardava, ao mesmo tempo que estava feliz com a descoberta da filha sentia medo por saber que fora dali existiam seres que a queriam mais que os próprios pais, só não queriam bem. Nada disso por mais dominante que fosse no pensamento do vampiro o fez para de sorrir, ela era uma estrela que brilharia mais ainda a partir daquele dia. Pegou em sua mão pequenina olhando de leve para a mãe da mesma ao seu lado, e logo voltando seu olhar para a pequena.
                                                - E sua mãe mentiria pra você pequena? Ela não prometeu que ia me trazer? Estou aqui, e eu não vou ir embora! - ele riu voltando a abraça-la - Você é linda minha pequena! Você é linda!!! - limpou as lágrimas que caiam involuntárias dos olhos do homem, suas mãos ficaram imediatamente sujas de sangue, o que fez soltá-la , os três olharam ao mesmo tempo para a mão dele, cada um com sua indagação na cabeça - Está tudo bem! - pegou um pano e limpou os olhos. - Acho que a bobona da sua mãe não te contou muito sobre mim não é? Bom sou Murray Canyton Jonson é um prazer senhorita! - com as mãos limpas pelo mesmo pano, ele estendeu para ela que apertou com uma força estranha. - Preparada para a próxima aventura? - piscou para ela.


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