Capítulo 4


                Trico. Ela não costumava fazer isso, porém há dois meses não tinha absolutamente nada para fazer, não tinha encontros quentes ou até mesmo um programa de televisão preferido, tricotava balançando a cadeira que recebera de seu filho pela reforma da casa. Suspirou, continuava a traçar a pequena linha pelas tão grandes agulhas. Não demorou muito para que ouvisse o som de uma criança perto da casa, nenhum de seus vizinhos tinham filhos, por isso deixou o que estava fazendo em cima da cadeira de balanço e foi logo até a porta atravessando a cozinha para isso. Abriu e lá estava seu filho na entrada da calçada com uma criança loira. Foi até eles sem entender:
                ─ Murray? O que te traz aqui?  sorriu para a menina também  E quem é essa menina muito linda?
                  Esta é Olivia!  sorriu, era obvio que não entenderia nada, de onde Murray tinha tirado aquela garota? Era um mistério para a mulher mais velha ali  Antes que pergunte, Olivia dois, ela é sua neta! Filha de Emilly  riu sozinho  Diz oi pra vovó querida! Eu não disse que ela era velha ?  o homem apontou para a mulher, dirigindo-se a pequenina, dando-lhe um leve empurrão para que fosse ao encontro da outra. Era um momento estranho e completamente novo para as duas.




                A menina arregalou os olhos ao ver a mulher e ao ouvir os dois, resmungou para o pai:
                ─ Onde está a velha louca? Essa parece uma modelo! ─  parou na frente da mulher com um sorriso nos lábios, Oli não era nada tímida e não começaria a ser agora. Foi até a mulher e puxou a mão dela a obrigando a se curvar, a olhou bem de perto estudando o rosto da avó, por fim, deu um beijo na bochecha da mesma e um passo para trás, estendendo a mão.
               ─ Muito prazer Vel....vovó! Eu sou a filha daquele cara gatão ali  apontou para o pai ─ é uma longa história que contaremos durante o café...a senhora deve ser a vovó mais bonita do mundo, isso deve ser ilegal, o sindicato das velhinhas vai cair matando encima da senhora  Oli riu, tentando ser simpática e abraçou a mulher pela cintura. 
              Bem humorada falou alto:
               ─ Papai ela é perfeita. Posso ficar com ela pra mim?
               ─ Pode ser que eu tenha exagerado um pouco querida, mas se ela não é velha por fora é por dentro com certeza, seu pai pode ser velhinho, mas sua avó, pense o próprio nome já fala!  ─ Murray riu zombando de sua mãe, ele só fazia isso porque sabia que ela levava numa boa, se não já teria parado há muito tempo.  ─ Mãe, viemos para tomar café, você tem aqui uma pequena doidinha que está com muita fome! Emilly daqui a pouco está aqui! ─ sorriu para a mãe.
              Era tudo muito confuso, uma tonelada de informação foi jogada na porta da casa de Olivia, muito para ela mastigar de uma vez só, estava estática e não sabia se sorria ou se tremia na base, ela sabia bem que tipo de ser Emilly era e sabia de onde o filho tinha saído, aqueles dois genes juntos não poderia realmente dar em boa coisa, a criança era simpática e completamente meiga, engraçada e nada tímida, Murray não deveria saber o que estava fazendo ao ter relações com a mulher e se sabia deveria ter tido maior atenção, o que ela podia fazer? Apesar de qualquer coisa que ela pudesse ser ainda era a mãe do loiro ali, curvou-se para ficar mais perto da garota e sentiu o beijo quentinho que os lábios dela ofereciam. Sorriu apenas por uns dois minutos, estava aparentemente tudo bem, ela deveria ter gerado apenas um dos genes. Quando decidiu falar foi para bronquear:
               Se você pensa que trazendo essa lindeza vai escapar de uma bronca está decididamente enganado! deu um beijinho na bochecha esquerda da menina e pegou na mão dela, a pobre coitada não tinha nada a ver com aquela confusão toda, não tinha noção e nem deveria.

               Vem Oli, a vovó jovem irá lhe fazer deliciosas panquecas e você terá o poder de escolher a cobertura!  guiou-a, enquanto lançou um olhar mortal para seu filho  Podemos esperar sua mamãe na casa porque está vindo uma tempestade ai e não vamos querer neném gripada! Isso serve pra você também marmanjo!
              Oli percebeu que a novidade havia aborrecido a avó que tentou disfarçar, mas a menina era rápida no gatilho e de cara notou a preocupação dela, Oli estava acostumada com a recusa das pessoas ao saberem o que ela era, mas não se deixava abater com isso, sabia que dez minutos com a vovó e ela se derreteria de amor. Olhou para o pai assustada, era a mãe dele e poderia castigá-lo. A menina não disse uma só palavra, mas seguiu Olivia para o interior da casa, ela tinha panquecas e Oli adorava panquecas.
              Segurou a mão da avó e entrou. 
              ─ Vem papai!  ─ Olhou para ele quase que pedindo,”por favor, não me deixe sozinha com ela" mas não se contendo dirigiu a palavra à Olivia.─ Não bate nele não vovó, eu não sou um mostro, eu juro! ─ Oli continuou caminhando, mas olhando para o chão, todo mundo a achava um monstro e ela não entendia por que.
              Olivia se comoveu com a fala da garota, ela não a achava um monstro, simplesmente tinha medo do que poderia acontecer com ela se alguém mal intencionado soubesse de sua existência. Era impossível negar que a garotinha era um perigo, principalmente depois que fizesse sua primeira transformação de garou, mas a senhora ali não permitiria que ela pensasse que não a amaria por ser simplesmente uma criança, parou em frente da porta de madeira entreaberta e ajoelhou-se para garota:
                Eu não te acho um monstro minha querida, mas você sabe o que você é certo? Sabe que corre perigo e não pode viver como uma menina normal, que precisa de cuidados que só o papai e a mamãe podem te dar! Seu pai foi um irresponsável por deixar isso acontecer, você não tem culpa do que eles fizeram, e você ter nascido não é um erro, entende? Você é uma benção e Deus sabe que por alguma razão você está aqui  Olivia sorriu para a neta simplesmente, não a queria ofender ou chatear, beijou-lhe a testa e puxou para dentro levantando. Chegaram na cozinha, a mulher pegou os materiais para fazer as panquecas .




                  Murray entrou logo após as duas, aquele comportamento explosivo da mãe deixara a garota triste e imaginava essa reação dela, sabia muito bem que a ordem dos mundos era o que Olivia mais queria, ao entrar fechou a porta e vendo a mãe nervosa remexendo nos armários em busca dos ingredientes disse:
                 ─ Eu sei que você está furiosa com isso, mas podemos conversar outra hora que não seja na frente dela?  balbuciou segurando o braço dela  Não quero magoar os sentimentos dela, é tudo muito recente ainda, entenda isso mulher! Ela é só uma criança, pode somente ser a avó dela por dois minutos?  soltou-a.
                   Tudo bem Murray, depois conversamos, eu você e a Emilly ─ pegou a frigideira e a tigela colocando todos os ingredientes na mesma, colocou rapidamente um avental verde que estava pendurado ao lado da porta e mexendo com o dente da batedeira misturava tudo, suspirou e não mais olhou para seu filho  Se quiser sentar na mesa docinho você pode, ou quer ajudar a vovó Livia?  falou alto para a pequena perto da porta, não iria assustá-la mais com seu papo de adulta. Coloque o casaco da sua pequena no cabide Murray, seja cordial.



                  Olivia ouviu toda a conversa deles, mesmo que os dois quisessem disfarçar, a menina estranhamente achou graça daquilo, mas ficou na dela. Ao ouvir a voz da avó dirigida a ela, olhou rapidamente e foi até a mulher, mas antes retirou o casaco e colocou nas mãos do pai. 
                      Não fica preocupado papai, eu estou bem e ela só está com medo. Pessoas com medo as vezes dizem coisas ruins.  piscou para ele e foi até a avó mas não se colocou a ajudá-la, apenas ficou parada ao lado dela olhando o que ela fazia. 
Lembrou das palavras da avó do lado de fora da casa e então resolveu respondê-la:
                       ─ Quando morei com a mamãe na Africa e os homens maus queriam nos matar, ficamos na casa de um senhor que cheirava mato queimado, uma noite eu estava chorando, estava com medo, ele foi até mim e disse que eu não devia ter medo, que eu precisava aceitar o que eu era e entender que com grandes poderes vinham grandes responsabilidades. Sabe porque pessoas más querem me matar vovó? Porque elas tem medo do estrago que eu posso fazer nelas. E sabe porque eu posso fazer um estrago nelas? Porque tenho bons pais que vão me guiar pelo caminho do bem. Não foi um descuido que me trouxe ao mundo. Papai do céu confiou nos meus pais pra me dar vida, a senhora deveria confiar também. ─ sorriu ao terminar.
                   Enquanto ela falava pegou um ovo e começou a rodá-lo sobre uma colher com a ponta do indicador e ao terminar colocou o ovo ao lado da vasilha que sua avó fazia as panquecas, do ovo saia fumaça, estava quente e cozido por dentro. Oli queria mostrar para a avó o que sabia fazer, sorriu para a mulher e ao ouvir um trovão se assustou dando um pulo e um grito.
                A mulher olhava abismada para cena que se passara, era totalmente sem explicação aquilo, a menina cozinhara o ovo apenas com o polegar, e as palavras que pronunciara eram de deixar a velha no chão, emocionada uma lágrima caiu do olho de Livia era estranho tudo aquilo e a seriedade que a garota tinha em suas palavras era surpreendente. 

                    Eu entendo, espero ter a mesma credibilidade que você Olivia! Eu vou trabalhar nisso, prometo tá?  deu as costas para a menina sem entender ainda, continuou mexendo e ligou o fogo com a frigideira em cima da boca do canto direito, jogou um pouco da massa e começou a aquecer, quando tinha que fazer virava com a espátula a panqueca, pegou em um dos armários de cima um prato grande e terminada a primeira colocou sobre o mesmo.
                      Já decidiu a cobertura?  sorriu desconversando.


                      Cobertura de chocolate com sorvete de Morgan,  mamãe tá demorando com esse sorvete ... ─ do nada olhou para o chão procurando algo. Cade a tartaruga de lacinho?
                   Livia não entendeu no inicio o que era um sorvete de Morgan, olhou para o filho e ele logo balançou a cabeça para que ela esquecesse o assunto, apenas sorriu para a garota e saiu da cozinha, ela havia perguntado da Mimosa e a mostraria.
                      Murray cuida das panquecas enquanto eu mostro pra minha netinha minha tartaruga mágica!  Livia foi até um quartinho que tinha depois da sala e buscou a tartaruga levando-a até a cozinha, agachou-se e mostrou para a pequena!  Mimosa esta é a Olivia, querida esta é a Mimosa Canyton Jonson! ─ Sorriu mostrando-a.
                      ─ Cuide das panquecas papai! ─ Falou com um sorriso de orelha a orelha e esperou a avó voltar, quando Olivia vinha com o bichinho Oli se sentou no chão de pernas cruzadas olhando a tartaruga. Oi mimosaaa, sua linda! Posso pegar a mimosa vovó? Falou já estendendo os bracinhos. ─ prometo não cozinha-la  riu.















                 Emilly os viu ir embora, suspirou e se sentou no degrau da porta, mantinha um semblante preocupado, foi quando ouviu uma voz calma e um toque em seu ombro. Era a senhora que dormia na sala quando a loira chegou com o vampiro.
                      ─ Tudo está como deve estar criança.
                      ─ Eu sei...mas tenho medo por Olivia e por Murray. Eu não sei o que nos espera.
                    ─ Olivia é uma criança especial, possui toda doçura de uma princesa mas a força de dez homens, não subestime sua filha Emilly.
                      ─ Minha preocupação maior agora é Murray....
                 ─ Esse velhos ouvidos escutam tudo que é dito nesta casa. Ele não morrerá criança. Hoje ele tem um forte motivo para lutar contra isso. A força de um homem é sempre maior quando ele se torna pai. Você mesma superou obstáculos que julgaria impossível antes. Uma garota que mata um urso não teme vampiros
                      ─ Olivia ficará exposta...
                   ─ E só então você terá noção da dimensão do que ela é. Um guerreiro se faz no campo de batalha, você deveria saber disso.
                      Emilly se levantou e a encarou indignada.
                      ─ Ela é só uma criança!





                      ─ Aos seus olhos de mãe ela é só uma criança. Acha que tantos a tentariam matar ou possuir se fosse só uma criança? Não criança. Durante séculos muitos tentaram criar um soldado invencível juntando genes garou e vampirico, sem sucesso. Sua menina é um milagre! Mas ainda é cedo para você entender...você quer salvar a vida de Murray. Já parou para pensar porque o gene dele sobreviveu ao seu gene destrutivo e originou Olivia?
                       O que quer dizer?
                      ─ Nada! Apenas devaneios de uma velha. Você não tem um sorvete para comprar?
                     Ela disse e se retirou, deixando Emilly pensativa, sem compreender suas palavras. Mas sabendo que não adiantaria perguntar, bufou e acatou, mudou para forma lupina e como um lobo saiu correndo pela mata, precisava chegar a cidade e comprar o tal sorvete.

                      Emilly seguiu pela floresta até que estivesse a beira da cidade, então voltou a forma hominídea, arrumou os cabelos e as roupas tortas, constatou que o dinheiro ainda estava guardado em seu sutiã e seguiu, adentrando as ruas de Londres, agora precisava encontrar uma sorveteria, se bem que o mais difícil era achar um sabor que Oli não tivesse provado ainda, falou consigo: " sorvete de Morgan tinha que ser no mínimo de pimenta....Murray tem cada idéia.. " seguiu a procura de uma sorveteria, todas eram comuns, sabores conhecidos, após nove sorveterias ela entrou na que seria a última.
                      Por favor, eu preciso que o senhor quebre o meu galho, quero todos os sabores misturados em um pote. Pode ser? Diz que siiim!  o homem ficou olhando para a loira que parecia louca sem entender nada.
                    O homem estranhou mas mesmo assim atendeu o pedido da loira, colocando todos os sabores em um pote para viagem. Emilly pagou, agradeceu e saiu correndo. Destino, apartamento de Murray, passou direto para o estacionamento, com cuidado para não ser vista, após uma ligação direta no carro do vampiro se mandou de lá. Murray a perdoaria pelo furto. O sorvete derretia no banco do carona e Emilly corria feito louca. Uma hora e meia mais tarde estava diante da casa de Olivia. Apesar da reforma Emilly reconheceu o lugar. Pegou o sorvete e desceu do carro, o trancando. Nisso a forte chuva caiu. 









                Olivia colocou a tartaruga em cima do colo da pequena menina, e foi cuidar de suas panquecas que pelo que notara Murray estava queimando.  A criança estava maravilhada com a tartaruga, a pegou com cuidado e ficou fazendo carinho, de repente ergueu o bicho tentando entender aquele casco, era curioso. Olivia virou mais uma vez e depois de alguns segundos colocou em cima do prato onde já havia sete daquelas, desligou o fogo e colocou a frigideira na pia para lavar, juntamente com toda louça que formara suja. Viu que o filho já tinha preparado a mesa para o café. Tirou da geladeira um suco de uva natural que havia preparado mais cedo, e algumas frutas que estavam na dispensa. Colocou a mesa enquanto a menina brincava.
              Sabe, ao contrário do seu pai eu como, gosto de sentir o sabor, mesmo não fazendo nenhum efeito em mim, seu pai te contou que eu sou uma vampira também não é?   Ela arrumava tudo   Vou pegar a calda na geladeira, mas cadê sua mamãe Olivia? Ela já deveria estar aqui não acha? Com seu sorvete de Morgan   olhou rapidamente para Murray rindo .
               ─ Mamãe deixou o carro com a gente, deve estar vindo correndo, acho que a Morgan vai derreter. Vovó, sabia que o papai é namorado da mamãe? Ele beijou ela, bem na boca. Eu vi! ─ Oli levantou do chão com a tartaruga no colo feito um nenêm. ─ Eu já sabia vovó....seu cheiro, ahh e eu beijei seu rosto, parece um picolé de carne e a mamãe falou que o papai tinha uns 500 anos, a senhora é mãe dele, por tanto.... Mimosa pode tomar café com a gente?  ─ Para Olivia a avó ser vampiro era a coisa mais normal do mundo.
           Sra. Grace colocou a menina na cadeira e ajeitou a tartaruga em cima da mesa, foi para a cozinha e na dispensa pegou duas folhas de alfaces, colocou em cima da mesa.
              ─ Esse aqui é o café da Mimosa, ela gosta deles assim mesmo naturais.  riu o animal era a única coisa viva naquela casa e depois da morte de seu gato sua única amiga.  Meu Deus então sua mãe anda lhe contando muitas histórias, porque nunca seu pai teve tanta idade como ela disse! Eu tenho cento e quarenta apenas, nem para desmentir né Murray?  voltou ao cômodo e começou a lavar a louça, os raios estavam fortes fora da casa e de supetão a porta se abriu trazendo com ela Emilly a lobisomem loira.
                        Olá Emilly, acho que chegou na hora certa  ela sorriu para a mulher.
                       Desculpe a demora, eu precisava tomar banho....olá Olivia, já faz algum tempo.   Emilly estava encharcada, a chuva a pegara de jeito. Sorriu para Olivia, ainda se sentia estranha na presença de vampiros e se lembrava bem da briga de Murray com a mãe na última vez que ali esteve. Entrou e tirou o casaco, então sacudiu o pote de sorvete que aquela altura estava derretido para Oli. ─ Morgan... disse e piscou para menina. ─ O cheiro está muito bom.... Como vai Olivia? Creio que teve uma surpresa e tanto hoje!






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