Perdido em pensamentos, até mesmo porque era apenas o que
lhe restara, não lhe sobrara família, amigos, casa, ele parecia um mendigo,
bêbado na rua, excesso de álcool não era, muito provavelmente excesso de
sangue... A feição que o vampiro tinha era de um Malkavian, louco e depravado.
Onde estaria a elegância do Giovanni ali presente? Se fora para qualquer canto
fora dele, ele estaria perdido? Ou ali de propósito?
A noite estava fria e úmida, a garoa caía aos olhos do homem, o cabelo
que antes ficava em pé caia nos olhos encharcado pela garoa forte. Murray
sentou em um degrau da entrada de uma casa, ele estava deprimido, entediado e
só naquela noite havia matado mais de seis, ele apenas queria que alguém
cuidasse dele, e de preferencia um amigo... A sua ex mulher o separara do filho
e se afastou infinitamente, nem viva mais ele sabia se estava. Olhou para cima,
e a luz da lua cheia preenchia o céu. Só faltava encontrar uma alcateia....
Emilly realmente acreditava que jamais colocaria os pés em
Londres novamente, aquela cidade que tantas lembranças lhe trazia, algumas
boas, outras que ela lutava para esquecer. Mas o destino parecia ter vontade
própria e não se importava com a dela, sendo assim, lá estava a loira mais uma
vez com o intuito de cumprir uma promessa, mas ainda não se sentia preparada
para voltar ao apartamento onde um dia viveu.
Caminhava solitária enquanto o vento frio fazia sua face arder. Trajava
calça jeans, casaco de couro marron e bota de cano médio da mesma cor. Os
cabelos soltos balançavam conforme andava. Não tinha um destino certo, só
queria andar, se cansar para tentar dormir. Havia um cheiro no ar que a
pertubava, provavelmente fruto de sua imaginação. Na tentativa de se livrar
daquilo a mulher acendeu um cigarro dando uma longa tragada, enquanto parava
numa rua quase deserta.
Perdido em
pensamentos, até mesmo porque era apenas o que lhe restara, não lhe sobrara
família, amigos, casa, ele parecia um mendigo, bêbado na rua, excesso de álcool
não era, muito provavelmente excesso de sangue... A feição que o vampiro tinha
era de um Malkavian, louco e depravado. Onde estaria a elegância do Giovanni
ali presente? Se fora para qualquer canto fora dele, ele estaria perdido? Ou
ali de propósito?
A fumaça do cigarro tomava formas no ar e
logo uma garoa forte começou a cair, foi quando ao olhar para frente avistou
uma figura estranha sentada do outro lado da rua. O sujeito tinha algo muito
familiar que fez Emilly engolir seco.
- Não
pode ser...
Aquele homem parecia com
Murray, embora fosse completamente diferente, porém duvida alguma Emilly
carregaria. Atravessou a rua parando mais ou menos uns dois metros dele. A
garou duvidava de seus próprios olhos, era ele mesmo, ou pelo menos o que
sobrou dele.
- Estava
uma noite fria como esta e eu andava sem destino exatamente como hoje, quando
dois vampiros me atacaram e fui salva por um terceiro. Mas hoje quem está com
cara de vilão da história é você...sr. Jonson. - disse Emilly.
Ela se
calou o olhando, sem saber o que esperar , mas estava preparada até mesmo para
um ataque. A menina sonhadora e frágil que Murray conheceu no passado não
existia mais, as pancadas e tombos que Emilly levou na vida a tornaram mais
forte e até mesmo mais fria.
Murray
abaixou a cabeça na direção da voz e reconheceu os fios dourados de sua
ex-mulher, ela estava tão bonita quanto antes, o tempo só lhe fizera bem.
Murray não conseguia expressar em seu rosto o que aquele re-encontro repentino
proporcionou a ele, só conseguia não desgrudar seus olhos dos olhos calorosos da
loba.Ela parecia madura, totalmente diferente de quem era quando se conheceram,
por quem ele se apaixonou. Mas agora Murray tinha perdido seu coração e talvez
nada o fizesse sentir novamente.
-Acontece que
eu sempre fui.. - riu debochado- ...ou você ainda acredita em histórias
crepusculantes que o amor vai te levar pra cima, ou te deixar melhor e em paz?
- riu mais alto, bebeu mais um gole da cerveja e coçou o nariz. -Hora de
acordar Emilly! Haha...iki...
Ele estava bêbado e sem
muita orientação, levantou e parou de sorrir, não sobrara nada para ele, era um
vampiro com ódio. Mas não tentaria matá-la, ele não era tão baixo. Bebeu o
resto da cerveja e jogou no chão, quebrando o vidro.
-Cada um
tem o destino que merece, não é mesmo?- tossiu - Ou o que lhe sobra... E pra
mim sobrou a escuridão, ser um vampiro, ter essa vida, as vezes eu só quero
fazer a barba. - riu naturalmente.
Emilly permaneceu parada diante de Murray enquanto a garoa
forte apagava seu cigarro entre os dedos. Ele havia assumido uma personalidade
irônica, debochada, sarcástico e irritante. Nada parecido com o Giovanni que
ela conheceu anos atrás. Enquanto ele falava ela apenas o olhava muda, nem
mesmo mudava sua expressão. Somente quando ele tacou a garrafa no chão a garou
se moveu, olhando para os cacos e logo após para ele com ar de reprovação.
- Ora
ora o vampiro malvadão... Eu sempre imaginei um final melhor para você, não se
tornar um bêbado mal humorado.- Emilly jogou fora o cigarro, mantendo o mesmo
olhar de reprovação, mas por dentro havia preocupação. Se aproximou e segurou
no braço de Murray.
- O
que está fazendo com você Cany??? Venha comigo! Você precisa de um café
forte... e de um banho. Não toma banho a quanto tempo heim? - Ela olhou em
volta avistando uma cafeteria, levaria o vampiro até lá nem que pra isso fosse
preciso jogá-lo no ombro e carregar. Murray sorriu sinceramente no momento em
que ela segurou em seu braço e a seguiu sem reclamar, era estranho ele ir com
tanta facilidade, até porque ainda tinha muita raiva recolhida da garou, mas
apesar de tudo ela o dominava, sua mente sabia as artimanhas para caça-lo.
-
Provavelmente faz uns quatro dias, sem contar que um filho da puta de um
cachorro fez xixi no meu tênis... - ele olhou o tênis branco, que mais estava
preto e amarelo, por sorte o cheiro tinha saído. Eles chegaram na cafeteria e
antes de subir Murray caiu de cara no chão, se apoiou na mão e levantou o
rosto, olhando para a mulher. -Falta de prática!- Levantou-se e abriu a porta para ela. - Pelo
menos ainda sou educado!
Emilly
escutava o que Murray dizia sem rebater nada, embora tivesse feito força para
não rir quando o mesmo disse que um cachorro fez xixi em seu tênis, logo veio o
susto quando o homem se estatelou no chão, levantando em seguida com mais uma
de suas piadinhas.
- A coisa tá feia heim!? Nunca imaginei te ver caindo de bêbado.... Ao
menos ainda é educado.- Emilly o laçou pelo braço e o conduziu para dentro,
olhando ao redor avistou uma mesa ao fundo, afastada, era perfeita. Ao passar
pelo atendente pediu que este levasse dois cafés fortes e sem açúcar para eles,
então prosseguiu com o vampiro sentando-se frente a frente com ele. Suspirou
olhando-o, retirou da bolsa que trazia consigo um lenço e com delicadeza limpou
a testa que ele sujou com a queda.
Voltou a
perguntar:
- O que está fazendo com você mesmo Cany? - intrigada.
Parecia que mesmo com tantas coisas pelas quais os dois passaram ele
ainda se derretia pelo olhar dela, as mãos quentes da loba ainda produziam nele
uma espécie de calafrio, e a cada minuto ele tentava resistir ao olhar dela.
-O que eu estou fazendo comigo? Tentando me destruir talvez, tentando me
punir por ter lascado com a vida de tanta gente, inclusive a tua, resolvi, já
que não tenho mais nada... - ele levantou o dedo e colocou perto dela meio
cambaleante.- ... Quando eu digo nada estou falando sério, ninguém, nem meus
filhos....NADA!!!- sorriu abaixando a cabeça, as lágrimas saiam involuntárias,
não sabia se era por causa da bebida ou de seu desespero, se controlou e limpou
o rosto se ajeitando na cadeira.- Pensei que seria a primeira a me atirar uma
pedra me vendo assim...me enganei, eu sempre me engano com você...
Pegou na mão
dela olhando para pele sobre pele...depois direcionou os olhos para os dela. Um
minuto de silêncio se fez.
Permaneceram
em silêncio, um olhando para o outro e Emilly meio que por impulso segurou a
mão de Murray posta sobre a dela, nada disse, apenas o olhava, as palavras de
Murray a feriram mais do que espada, vê-lo daquela forma era pesado demais para
ela.O atendente
finalmente leva os cafés até eles, sem ao menos ser notado pelo casal,
percebendo o clima na mesa tratou logo de se retirar.
-Você não
pode se torturar dessa forma, eu não suporto te ver assim...não você Cany....Não é
verdade que você não tem nada.... - Emilly
desviou os olhos dos dele, mas não soltou sua mão, era como se tentasse sugar
toda aquela dor que ele aparentava sentir. Murray estava
cansado, exausto da vida idiota que levava nos últimos meses e pela primeira
vez sentiu segurança por um simples aperto de mão de Emilly, aquela mão que
tanto o afagara, aquela mão que tanto o beliscara, era fato, mas da qual ele
sentia saudade, queria de volta. Porém não podia falar para ela, ainda mais ali,
daquele jeito e naquelas condições, ela teria pena dele, nojo entre outras
coisas. Soltou a mão dela com certo constrangimento, escorregou a mão pela mesa
até seu colo.
-Me perdoe
por tudo! Te devo muita coisa!- disse ele.
Murray não
aguentou mais dois minutos, caiu sobre a xícara de café, quebrando e espalhando
as partículas. Desmaiando. Emilly nem
teve tempo de dizer nada, foi surpreendida pelo desmaio do homem, por sorte
ninguém mais notou a cena.
-Mas que
merda! O que eu faço agora?
Olhou ao
redor e notou uma porta logo atrás deles, provavelmente uma saída para os fundos
da cafeteria, a lobisomem sabia que aquilo era arriscado mas tinha que fazer. Se
levantou e ergueu o tronco de Murray, aproveitando a ausência de pessoas
respirou fundo e gastando sua fúria mudou de forma, de hominídea para crinos.
Já como um monstro peludo pegou o vampiro nos braços e saiu pela porta
avistada, esta dava para um beco. O carregou até um ponto de táxi e voltou a
forma humana, em menos de um minuto um táxi se aproximou e o motorista julgando
que o homem estivesse bêbado ajudou a colocá-lo no carro. Ela não
pensou duas vezes, mesmo sem saber se o ex residia no mesmo endereço pediu ao
taxista que os levasse para lá.
O tempo
passava e Murray não acordava, o motorista boa gente ao chegar diante do prédio
indicado pela loira, se deu ao trabalho de ajuda-la a carregá-lo até o
elevador. Emilly pagou e o agradeceu, a porta do elevador se fechou com o casal
dentro dele.
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